Efeitos macroeconómicos da dívida pública e do serviço da dívida em Moçambique em debate na cidade da Beira
Março 7, 2019
Este é o tema do artigo de Yasfir Ibraimo, investigador no Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), apresentado no seminário de divulgação do livro “Desafios para Moçambique 2018” na Beira, a 28 de Fevereiro último, no qual discute os efeitos macroeconómicos da dívida pública e do serviço da dívida, num contexto de endividamento crescente e crítico do país. Com base em análise econométrica, operacionalizada pela elaboração do modelo de vector Auto-regressivo (VAR), referente ao período 2000-2016, o autor apresenta as seguintes evidências:
- Tanto a contracção de empréstimos públicos externos como a de domésticos não tiveram um impacto no aumento do nível do produto interno bruto real, mas sim deterioraram o nível de produto, incluindo o serviço da dívida externa e doméstica, que teve um forte efeito negativo no produto durante todo o período do estudo.
- Ambos os serviços da dívida são mais prejudiciais para o nível de produto quando comparado com o stock das dívidas em si, pois o recurso à dívida pública para estimular o produto interno bruto real não produziu os efeitos esperados, o que pode indicar que as dívidas contraídas durante o período em análise foram utilizadas para outros fins e não necessariamente para promover o crescimento económico.
- Relativamente ao nível geral de preços, verificou-se que os choques na dívida doméstica, no serviço da dívida externa e doméstica, apesar de terem efeitos positivos no nível de preços, não foram significantes. Contudo, foi notória a influência significativa da taxa de câmbio na variação do nível de preços. Portanto, as tendências inflacionárias durante o período em análise são originadas pelo aumento da taxa de câmbio, isto é, pela depreciação do metical em relação ao dólar americano.
- No curto prazo, tanto a dívida externa, doméstica e o serviço da dívida externa têm efeitos negativos sobre a taxa de câmbio, equivalente à apreciação do metical. Porém, no longo prazo, estas tendem a aumentar, originando uma depreciação da moeda doméstica. Em oposição, o serviço da dívida doméstica e externa contribuiram significativamente para o aumento da taxa de câmbio.
- Por último, a dívida doméstica e externa e os respectivos serviços de dívida, no curto prazo, afectaram negativamente as taxas de juros dos bilhetes do Tesouro e a prime lending rate, tendo registado um efeito contrário no longo prazo. Neste contexto, há que destacar o contributo significativo da dívida doméstica e do respectivo serviço da dívida na variação da taxa de juro dos bilhetes do Tesouro. Isto mostra que sucessivos aumentos de dívida doméstica originam aumentos da taxa de juro. Consequentemente, a prime lending rate acaba por ser influenciada pelo aumento da taxa de juro dos bilhetes do Tesouro.
Veja aqui a apresentação feita por Yasfir Ibraimo neste seminário realizado pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) em colaboração com a Universidade Católica de Moçambique.